domingo, 28 de dezembro de 2008

Primeiro dia de aposentadoria

No dia seguinte ele acordou
E percebeu que tudo seria diferente
Ainda se recuperava da noite passada
A noite em que a Morte sussurou em seus ouvidos

Seu corpo se recusava a obedecer o cérebro
Não havia possibilidades de se levantar
As pernas bambas e o rosto formigando
Palavras demandavam uma força descomunal

Um anjo da guarda
Paredes brancas
Maca azul
Glicose na veia
Vômitos no balde

No dia seguinte ele acordou
E percebeu que tudo seria diferente
Ele havia feito um juramento
Era um ex-maconheiro

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

As vinte e cinco linhas de Dezembro

Já era noite. Uma noite chuvosa.
Eu estava nervosa. Muito ansiosa.
Afinal, eu havia mentido o dia inteiro para estar ali.
O carro chegou. Parou do outro lado da rua. Ele estava lá dentro me esperando.
Me fez uma sequência de perguntas enquanto eu balbuciava uma desculpa qualquer.

Ele não acreditou.
Fingiu que comprou as minhas histórias.
Tentava conduzir a conversa para que eu acabasse me contradizendo.
Não funcionou. Apesar de péssima mentirosa, eu já havia me programado.
E então paramos num farol. O brilho dos seus olhos fez cada gota de chuva secar.

Estava ao seu lado.
No banco de passageiros.
Já não conseguia mais me conter.
Ele perguntou o que havia naquele pacote.
Eu disse que era um presente para um amigo.

Ele explodiu.
Parou o carro e começou a gritar.
Começou a suar. E suas rugas exalavam um ciúme doentio.
Naquele momento percebi que ele estava envelhecendo. O tempo não levara seu charme.
Comecei a gargalhar. E ele a se enervar. Eu amava aquele homem. Cada vez mais.

Ele queria saber o motivo de tanto riso.
Eu disse que ele ficava lindo quando saía de si.
Ele me olhou. E então suas mãos agarraram as minhas.
Eu comecei a tremer. Havia chegado o grande momento. Eu respirei fundo.
Levei o pacote em sua direção e disse: "Não tenho outro homem. Feliz Natal, Pai!'

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Quando Drummond Chorou

No meio do caminho tinha uma Kombi
tinha uma Kombi no meio do caminho
tinha uma Kombi
no meio do caminho tinha uma Kombi

Nunca me esquecerei daquele congestionamento
no viaduto Aricanduva com as rodas arriadas
nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma Kombi
tinha uma Kombi no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma Kombi.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Marcas deixadas em mais de uma pessoa

Não preciso mais de ti. Eu cresci mais forte.
Não necessito mais do seu sorriso.
Já consigo viver sem a sua aprovação.

Não vou me remoer se não me ligar.
Pra ser só mais um em suas festas populares.
Pra ser só mais um a te bajular.

E quando olho para o lado não vejo ninguém.
Se não caminho sozinho é porque a solidão me acompanha.
Já nos tornamos amigos. Ao menos tenho um amigo.

Eu costumava ser bem parecido com você.
Agora eu sou só eu.

sábado, 25 de outubro de 2008

Devaneios da hora de fechar a conta

Bebi uma cerveja. Pensei em você.
Bebi outra cerveja. Bati meu carro.

Acendi um cigarro. Lembrei dela.
Apaguei meu cigarro. Queimei meu dedo.

Pedi a conta. Pensei na vida
Lembrei que muitos dos meus amigos eram apenas colegas.

Ainda espero sua ligação. Espero não estar fora de área.

Mais uma por favor!

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Denny na escola

Denny quer uma namorada!
Denny, olha seus amigos e não entende. Porque ninguém me acha bonito?

Denny sente inveja dos caras mais velhos.
Denny tenta imitá-los em vão. Malditos pedófilos!

Denny olha as meninas do oitavo ano.
Denny tenta chamar a atenção delas a qualquer custo. Posso sentar com você?

Denny tenta fazer charme cantarolando a música da moda.
Todas riem de Denny. Ele não é popular.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Lírios Vermelhos

B G#
No dia em que abri minha janela
E F#
Vi o chão abrir e paredes desabarem
B G# E F#
Me conte como foi assistir pela televisão
B G# E F#
Me conte como foi calar-se diante de tamanha dor

G# E B F#
E desde, então, o pôr, do-sol, mudou do cor

B G#
E desde então não choveu mais
E F#
Minhas lágrimas secaram, meu piano se calou
B G# E F#
E desde então os lírios vermelhos que tanto adorava nunca mais cresceram

G# E B F#
E desde, então, o pôr, do-sol, mudou do cor

B G#
No dia em que espiei pela cortina
E F#
Contemplei o fim, abençoado pelo nada
B G# E F#
Me conte como foi saber que tudo aquilo era sua obra
B G# E F#
Me conte como foi acordar sem se abalar

G # E B F# B
E desde entao meu coração se adaptou a um novo ritmo

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Rap do Amor Bandido

"Amanhã é dia de visita. Você vai lá conhecer o Birita?"

"Amanhã? Ai, ai, eu não sei. De vergonha, se pans, morrerei."

"Vergonha? Larga de ser pamonha! Vergonha de quê, sua tonha?"

"Vergonha sim! E se ele não gostar de mim?"

"Menina,vê se deixa de bobeira. Você não é nenhuma sereia. Mas também não é lá muito feia!"

"Verdade verdadeira. Não sou lá tão feia e é ele quem está na cadeia."

"E pra sua mãe, o que irá dizer? Acho que ela não pode saber."

"Ih, já era! Eu já contei. Às vezes acho que errei."

"Gente, que maluquice! Que foi que ela disse?"

"Disse que esse mundo está perdido. A filha dela namorando um bandido."

"Ai, ai, isso é pura emoção! Será que vão roubar teu coração?"

domingo, 27 de julho de 2008

Almas gêmeas

Ele era do tipo que ganhava as meninas com poesia.
Ela fazia o tipo "gasolina".
Ele lia até bula de remédio.
Já ela, nem gostava de ler.
Ambos estupidamente formosos.

Eles entraram no mesmo vagão do metrô.
Trocaram olhares por algumas estações.
Ele até pensou em ir falar com ela.
ELa até pensou em sorrir para ele
Ambos não tiveram coragem.

Ela desceria em três estações.
Ele desceu na próxima.
Não sem antes convidá-la a um último olhar.
Nunca mais se viram. Melhor assim.
Não tinham sido feitos um para o outro.

sábado, 26 de julho de 2008

Kisses me not

She loves me, she loves me not
Whatever happens!

She kisses me, she kisses me not
Sorry, I just can't help it!

She holds me, she holds me not
I so missed you!

She daNces me, she dAnces me not
I am sorry for not being a good dancer.

She leaves me, she leaves me not
The NIght is over. We had a good time.

sábado, 5 de julho de 2008

Sala dezessete

Pessoas diferentes e semi-desconhecidas
Anseios iguais e semi-revelados

E na sala dezessete é que as coisas acontecem(ou ao menos podem acontecer)
Num caminho semi-completado eu me sinto a caminho da sala cento e um
Sem a habilidade de ler pensamentos é difícil fazer qualquer previsão

E dezenas de pessoas ensaiam a mesma peça
Lêem o mesmo roteiro nas salas dezesseis e dezoito.
Na sala sem número também
É a maior de todas

Menina do cabelo vermelho

Numa tarde inverno quero te roubar
Faltar no trabalho, dizer que estou doente e quero ser Ferris Bueller
Te levar para um refúgio só nosso, num universo paralelo qualquer
Vou te beijar ouvindo Lori Meyers e fechar os olhos
Ficar te fitando somente na minha imaginação, bêbada, dançando desvairadamente

Passar frio às 5 da manhã, voltar a pé até a hora do metrô abrir
Cabelos desgrenhados cheirando cigarro, brincando de se equilibrar nos cantos da calçada
Dormir no caminho de volta pra casa como se nunca fôssemos chegar
Acordar no dia seguinte achando que tudo aquilo foi mentira, um sonho maluco
Te ligar pra dizer OI e descobrir que ainda estava dormindo