terça-feira, 23 de dezembro de 2008

As vinte e cinco linhas de Dezembro

Já era noite. Uma noite chuvosa.
Eu estava nervosa. Muito ansiosa.
Afinal, eu havia mentido o dia inteiro para estar ali.
O carro chegou. Parou do outro lado da rua. Ele estava lá dentro me esperando.
Me fez uma sequência de perguntas enquanto eu balbuciava uma desculpa qualquer.

Ele não acreditou.
Fingiu que comprou as minhas histórias.
Tentava conduzir a conversa para que eu acabasse me contradizendo.
Não funcionou. Apesar de péssima mentirosa, eu já havia me programado.
E então paramos num farol. O brilho dos seus olhos fez cada gota de chuva secar.

Estava ao seu lado.
No banco de passageiros.
Já não conseguia mais me conter.
Ele perguntou o que havia naquele pacote.
Eu disse que era um presente para um amigo.

Ele explodiu.
Parou o carro e começou a gritar.
Começou a suar. E suas rugas exalavam um ciúme doentio.
Naquele momento percebi que ele estava envelhecendo. O tempo não levara seu charme.
Comecei a gargalhar. E ele a se enervar. Eu amava aquele homem. Cada vez mais.

Ele queria saber o motivo de tanto riso.
Eu disse que ele ficava lindo quando saía de si.
Ele me olhou. E então suas mãos agarraram as minhas.
Eu comecei a tremer. Havia chegado o grande momento. Eu respirei fundo.
Levei o pacote em sua direção e disse: "Não tenho outro homem. Feliz Natal, Pai!'

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